Sempre que vou visitar meus pais acabo entrando numa verdadeira “Pequenopoles”. Não me refiro à tradução ao pé da letra que fizeram da cidade que serve se palco para o seriado de mesmo nome, Smaville. Me refiro ao fato de que lá quase todo o meu círculo social não passa dos 10 anos de idade. Meus primos, os “fazedores” de pérolas.
- Engraçado...
- Que foi, Luan?
- Você é gente grande (adulta), mas seu tamanho é que nem o da gente.
Na festinha do São João, na qual Luan foi o noivo:
- Cadê tua mulher, Luan?
- Foi no hospital parir meu menino.
- Como é que é, menino?
- oxe, não é minha mulher? Então pronto!
Enquanto passava um filme espírita, Luan deitado embaixo do centro tenta captar a mensagem:
- Então é assim....ela morreu, daí voltou...é ela, mas não é ela de antes. Ela não lembra nem quem foi antes. É isso?
- É, Luan.
- Mentira da gota. Coloca aí no Chaves.
- eu sei rebolar! Eu sei rebolar ! (Yasmin, 2 anos, ainda precisa de fraldas mas já sabe mexer as cadeiras)
- Por que você tá chorando, Caliel?
- Minha mãe me bateeeeeeeu.
- Mas por que?
- Porque eu subi na janela (do primeiro andar) pra voar e ela ficou com raiva. Tu acha, “badinha”?
....
- Olha, “badinha”. (apontando pra janela agora com grade)
- Pra que isso Caliel?
- Minha mãe não quer mais que eu vôe.
- Tia...
- Oi, Caliel.
- Quando eu ficar grande eu vou casar com minha madrinha.
- Casar com madrinha não pode.
- Tá certo, eu caso com Yasmin então.
quarta-feira, 15 de outubro de 2008
terça-feira, 19 de agosto de 2008
De volta à realidade brasileira, sem festivais de verão onde a gente pode deitar em um gramado verdinho e aproveitar diversos estilos musicais, resolvi me render a um show de axé. Embora o Jampa Indoor não tenha sido meu primeiro contato com esse universo, foi a primeira vez que acompanhei o desenrolar da festa completamente sóbria. Acreditem, isso lança uma nova luz sobre os fatos. O evento deveria ser rebatizado de freak show indoor.
Dificilmente uma festa conseguiria unir tanta gente feia e mal vestida por metro quadrado. Mas como mal vestida se o uso do abadá é obrigatório? A-há, você não contava com a astucia das piriguetes ao personalizar a vestimenta. Na mão delas, a camisa verde limão ora ganha modelagem que deixa a barriga protuberante à mostra, ora é combinado com uma faixa de cor gritante na cintura. As meninas optam por shorts que deixam saltar todas as celulites e forçam o nascimento prematuro de mais alguma centenas. Para calçar em um show que você vai pular por umas dez horas, nada melhor que sandálias gladiador ou até mesmo um salto alto. Os meninos usam bermudão estampado. Estampadissimo. Eu já mencionei que a camisa era verde limão?
Para entrar no local é necessário deixar objetos cortantes e boas maneiras do lado de fora. Mesmo tendo cinco metros de espaço para passar, é certo que mil pessoas vão esbarrar em você na tentativa de levar alguma parte do seu corpo.
Já cheia de hematomas e pernas doloridas, sou levada pela multidão para o lado direito do palco. “o que é isso!? Um passo novo de axé? Um arrastão?”, “É briga! É briga!”. Claro. Um grupo tinha começado a brigar praticamente embaixo do local onde os seguranças estavam. Alguém da multidão questiona: “ Oh, segurança, vai fazer nada não”; “Meu filho, eu sou mulher!”, responde ela sem mostrar qualquer constrangimento. Apesar disso, volta e meia aparecia um segurança (homem), dando uma chave de pescoço em alguém e arrastando o sujeito par ao lado de fora.
Resolvemos ir embora antes do fim da festa, no meio de uma música que rima coração com caminhão. Quase fomos extorquidas por um taxista. Tomo banho, corro pra cama. Fim de noite. Fim de noite o Ca-ce-te! No meio da madrugada acordo com conjuntivite. No dia seguinte descubro que foi uma epidemia do jampa indoor, já que várias outras pessoas acordaram remelentas. Certeza que Deus abençoa os chicleteiros?
Dificilmente uma festa conseguiria unir tanta gente feia e mal vestida por metro quadrado. Mas como mal vestida se o uso do abadá é obrigatório? A-há, você não contava com a astucia das piriguetes ao personalizar a vestimenta. Na mão delas, a camisa verde limão ora ganha modelagem que deixa a barriga protuberante à mostra, ora é combinado com uma faixa de cor gritante na cintura. As meninas optam por shorts que deixam saltar todas as celulites e forçam o nascimento prematuro de mais alguma centenas. Para calçar em um show que você vai pular por umas dez horas, nada melhor que sandálias gladiador ou até mesmo um salto alto. Os meninos usam bermudão estampado. Estampadissimo. Eu já mencionei que a camisa era verde limão?
Para entrar no local é necessário deixar objetos cortantes e boas maneiras do lado de fora. Mesmo tendo cinco metros de espaço para passar, é certo que mil pessoas vão esbarrar em você na tentativa de levar alguma parte do seu corpo.
Já cheia de hematomas e pernas doloridas, sou levada pela multidão para o lado direito do palco. “o que é isso!? Um passo novo de axé? Um arrastão?”, “É briga! É briga!”. Claro. Um grupo tinha começado a brigar praticamente embaixo do local onde os seguranças estavam. Alguém da multidão questiona: “ Oh, segurança, vai fazer nada não”; “Meu filho, eu sou mulher!”, responde ela sem mostrar qualquer constrangimento. Apesar disso, volta e meia aparecia um segurança (homem), dando uma chave de pescoço em alguém e arrastando o sujeito par ao lado de fora.
Resolvemos ir embora antes do fim da festa, no meio de uma música que rima coração com caminhão. Quase fomos extorquidas por um taxista. Tomo banho, corro pra cama. Fim de noite. Fim de noite o Ca-ce-te! No meio da madrugada acordo com conjuntivite. No dia seguinte descubro que foi uma epidemia do jampa indoor, já que várias outras pessoas acordaram remelentas. Certeza que Deus abençoa os chicleteiros?
quinta-feira, 1 de novembro de 2007
Antes de vir para cá fui alertada sobre os mais diverso problemas que poderia ter : homesick, adptacão, frio, comida, etc. Mas ninguém nunca me avisou que ir a o supermercado pode ser algo tão complicado!
A primeira dificuldade foi com o carrinho de compras. É claro que eu sou capaz de reconhecer um quando vejo, mas o problema é conseguir pegá-lo. Ele é preso com uma corrente no carrinho da frente. Então depois do primeiro puxão sem sucesso, fui lá procurar um botao, maçaneta, local para digitar a senha ou seja lá o que for pra tirá-lo do lugar. Foi quando vi alguém colocando uma moeda e saindo tranquilamente para fazer suas compras.
Já descabelada, segui em frente em busca do creme de leite. Vou seguindo os rótulos na prateleira: Leite de coco, leite condensado …mas cadê o diabo do creme de leite? Ele é primo do condensado ! tem que estar aqui. Ando pra cá, ando pra lá e nada. Resolvo pedir ajuda a alguém que está colocando os produtos na prateleira. Mas como é mesmo que se diz creme de liete em holandês ? em inglês, pelo menos ?
‘ com licença, eu to procurando, er…eu to procurando por uma coisa que parece com isso aqui (apontando para leite condensado), mas ele é mais..er...cremoso ( ?)’
O cara me fez um sinal afirmativo com a cabeca. ‘Siga-me!’. Obedeci prontamente. Quando a gente chegou na parte dos frios, ele me entrega algo que diz no rotulo ‘sour creeam’. ‘moço, desculpa, mas não é isso, não…’ Ele preciona os lábios com forca, franze a testa e vai chamar mais alguém pra ajudar. Nessa parte eu já tava querendo sair corrida dali! ‘não, obrigada. Eu não preciso de comida pra viver. Eu posso viver da luz do sol ? ah, sol na holanda é so de vez em quando, verdade. Tudo bem, eu como as flores’. Depois deles me apresentarem de qualhada a iorgute natural, finalmente me trazem o creme de leite. Tudo bem. Eu sei que TODO mundo sabe que é creme fraiche, mas EU não !
A última vez foi a uva-passa. Embora sem idéia de como se dizer isso em qualquer idioma além do português, eu sabia a sessão do supermercado. Damascos, passas com damasco. Nozes. Passas com nozes. Passas com amendoas. Mas cadê as uva-passa sem companhia? Tinha um turco do meu lado. Resolvi pedir ajuda mais uma vez.
“moço…o vc tah vendo essas coisinhas pretas nessa caxinha?’.
‘nao, minha filha, isso é uma ilusao da sua mente. Volte pra casa, tome um copo de leite morno e descanse’, teria respondido eu. Mas como estamos falando de uma pessoa aparentemente gentil ele me lancou um ‘yeah’ bem simpatico. ‘ como é o nome delas em holandês ?’ ; ‘rozijn’ ; ‘certo…tem onde eu encontrar um pacote com com rozijn ?’ ; ‘Claro, espere aqui !’. Ótimo, ele acha que sou retardada =] ‘eu achei as passas, mas tem taaaantas opcões, venha aqui ver !’. Pois é, achei a uva-passa. Uma prateleira cheinha.
Ah ! É aconselhavel levar a sua sacola de compras de casa, porque aqui vc tem que pagar pelas sacolinahs de plástico.
A primeira dificuldade foi com o carrinho de compras. É claro que eu sou capaz de reconhecer um quando vejo, mas o problema é conseguir pegá-lo. Ele é preso com uma corrente no carrinho da frente. Então depois do primeiro puxão sem sucesso, fui lá procurar um botao, maçaneta, local para digitar a senha ou seja lá o que for pra tirá-lo do lugar. Foi quando vi alguém colocando uma moeda e saindo tranquilamente para fazer suas compras.
Já descabelada, segui em frente em busca do creme de leite. Vou seguindo os rótulos na prateleira: Leite de coco, leite condensado …mas cadê o diabo do creme de leite? Ele é primo do condensado ! tem que estar aqui. Ando pra cá, ando pra lá e nada. Resolvo pedir ajuda a alguém que está colocando os produtos na prateleira. Mas como é mesmo que se diz creme de liete em holandês ? em inglês, pelo menos ?
‘ com licença, eu to procurando, er…eu to procurando por uma coisa que parece com isso aqui (apontando para leite condensado), mas ele é mais..er...cremoso ( ?)’
O cara me fez um sinal afirmativo com a cabeca. ‘Siga-me!’. Obedeci prontamente. Quando a gente chegou na parte dos frios, ele me entrega algo que diz no rotulo ‘sour creeam’. ‘moço, desculpa, mas não é isso, não…’ Ele preciona os lábios com forca, franze a testa e vai chamar mais alguém pra ajudar. Nessa parte eu já tava querendo sair corrida dali! ‘não, obrigada. Eu não preciso de comida pra viver. Eu posso viver da luz do sol ? ah, sol na holanda é so de vez em quando, verdade. Tudo bem, eu como as flores’. Depois deles me apresentarem de qualhada a iorgute natural, finalmente me trazem o creme de leite. Tudo bem. Eu sei que TODO mundo sabe que é creme fraiche, mas EU não !
A última vez foi a uva-passa. Embora sem idéia de como se dizer isso em qualquer idioma além do português, eu sabia a sessão do supermercado. Damascos, passas com damasco. Nozes. Passas com nozes. Passas com amendoas. Mas cadê as uva-passa sem companhia? Tinha um turco do meu lado. Resolvi pedir ajuda mais uma vez.
“moço…o vc tah vendo essas coisinhas pretas nessa caxinha?’.
‘nao, minha filha, isso é uma ilusao da sua mente. Volte pra casa, tome um copo de leite morno e descanse’, teria respondido eu. Mas como estamos falando de uma pessoa aparentemente gentil ele me lancou um ‘yeah’ bem simpatico. ‘ como é o nome delas em holandês ?’ ; ‘rozijn’ ; ‘certo…tem onde eu encontrar um pacote com com rozijn ?’ ; ‘Claro, espere aqui !’. Ótimo, ele acha que sou retardada =] ‘eu achei as passas, mas tem taaaantas opcões, venha aqui ver !’. Pois é, achei a uva-passa. Uma prateleira cheinha.
Ah ! É aconselhavel levar a sua sacola de compras de casa, porque aqui vc tem que pagar pelas sacolinahs de plástico.
quinta-feira, 9 de agosto de 2007
Depois de quatro meses tentando fazer a sobrancelha sozinha, percebi que o máximo que consegui foi me tornar uma sosia da Frida Kahlo. Resolvi então tirar cinco euros do meu salario auperiano para pagar um profissional que pudesse me ajudar.
Essa boa alma se encontra no salão do outro lado da rua. Ela me aponta a cadeira, pede que eu me sente. Pega um carretel, faz um “x” com a linha, segurando a ponta com os dentes. Até então eu só tinha visto essa técnica na TV. A mulher posiciona o rosto dela a apenas alguns milimetros do meu e dá inicio aos quinze minutos mais dolorosos da minha existência. Depilar virilha com cera quente? fichinha depois disso! Tentei mentalizar coisas boas pra não chorar com a dor: minha mãe, comida, sexo, melhores momentos da minha infância, brigadeiro de panela em dia de chuva...inutilmente.
Ela me pede para esticar a parte de cima da sobrancelha com uma mão e a palpebra com a outra. A essa altura meu coração estava cheio de ódio. Porque eu odeio profundamente qualquer criatura qe me provoque dor, mesmo que eu pague para senti-la.
A mulher se empolgou de uma maneira, que eu senti que ela saiu podando todos os pêlos que ela via pela frente. Parecia até aquele episódio do Pica Pau que ele é um barbeiro e vai cortar o cabelo do leão fugitivo.
Ela termina sorridente, com mãos na cintura e expressão de missão cumprida. Admito que meu rosto nunca esteve tão lisinho, nem minhas sobrancelhas tão parecidas com a de uma Drag Queen.
Essa boa alma se encontra no salão do outro lado da rua. Ela me aponta a cadeira, pede que eu me sente. Pega um carretel, faz um “x” com a linha, segurando a ponta com os dentes. Até então eu só tinha visto essa técnica na TV. A mulher posiciona o rosto dela a apenas alguns milimetros do meu e dá inicio aos quinze minutos mais dolorosos da minha existência. Depilar virilha com cera quente? fichinha depois disso! Tentei mentalizar coisas boas pra não chorar com a dor: minha mãe, comida, sexo, melhores momentos da minha infância, brigadeiro de panela em dia de chuva...inutilmente.
Ela me pede para esticar a parte de cima da sobrancelha com uma mão e a palpebra com a outra. A essa altura meu coração estava cheio de ódio. Porque eu odeio profundamente qualquer criatura qe me provoque dor, mesmo que eu pague para senti-la.
A mulher se empolgou de uma maneira, que eu senti que ela saiu podando todos os pêlos que ela via pela frente. Parecia até aquele episódio do Pica Pau que ele é um barbeiro e vai cortar o cabelo do leão fugitivo.
Ela termina sorridente, com mãos na cintura e expressão de missão cumprida. Admito que meu rosto nunca esteve tão lisinho, nem minhas sobrancelhas tão parecidas com a de uma Drag Queen.
sexta-feira, 22 de junho de 2007
Eu, que sempre atraí as pessoa mais toscas com as cantadas mais infames, cheguei ao fundo do poco. Hoje fui cantada por alguém com dentadura.
Tudo comecou quando eu, pra não perder um tram e acabar chegando atrasada na aula, simplesmente pulei. A excecão de alguma cidades, não há cobradores dentro dos trams da Holanda. Voce compra uma cartela e marca numa maquininha lá dentro. O que acontece é que esse bendito que eu pego pra ir pro centro, a gente tem que carimbar do lado de fora.
E, justamente nesse dia, a fiscalizacão entra. ‘Fudeu’, penso. O fiscal vem em minha direcão e eu faco uso de minha frase mais constante nessa terra : ‘in English, please’. Ele dá um sorriso exibindo os dentes tão descaradamente falsos, que chamaria menos atencão se ele assumisse a banquelice. Daí pra frente não consegui desviar os olhos nenhum segundo daquela arcada dentaria fake.
Eu fiz a cara mais inocente que eu pude, explicando que eu entrei procurando a ‘coisinha pra marcar’, mas que não tinha encontrado. Ele me informa que nos novos modelos de tram, a gente faz isso do lado de fora. ‘meu Deus, é preso com um ferrinho do lado direito’. Que a multa por tentar andar de graca é de 75 euros. ‘Será que dói ?’. Daí eu argumentei, dizendo que era nova da cidade, não sabia disso. Ele perguntou de onde eu era.
- Brasil.
- Oh, Brasil. Eu estive lá. Fui ao Rio. É um lugar maravilhoso.
- Ah, é um país cheio de dentaduras, digo, de belezas.
Então ele comeca a falar em espanhol, dizendo que consideraria voltar ao Brasil, se fosse convidado por mim. Pediu meu telefone pra que a gente pudesse marcar tomar ‘uns traquitos’. No primeiro momento eu pensei em dizer que não tinha celular, mas com minha maré de sorte, era terminando a frase e ele tocando. Preferi dizer que não sabia o número ainda (o que é verdade). Ele me deu o dele e pediu preu dar um toque. ‘Er…eu estou sem crédito’. Acabou que consegui me livrar da punicão.
- Dessa vez não tem problema, voce não vai levar multa.
- Oh, é muita dentadura de sua parte, senhor Gentileza.
Eu juro que até agora me pergunto se ele foi todo sorrisos o caminho todo ou se simplesmente não conseguia fechar a boca por conta do tamanho da protese. Chego na estacão central, ele também desce e se despede com um largo aceno de mão (gracas a Deus os holandeses não abracam, Jesus !) . ‘me ligue mesmo, hein ?’ ; ‘claro, claro, pode esperar…sentado’.
Tudo comecou quando eu, pra não perder um tram e acabar chegando atrasada na aula, simplesmente pulei. A excecão de alguma cidades, não há cobradores dentro dos trams da Holanda. Voce compra uma cartela e marca numa maquininha lá dentro. O que acontece é que esse bendito que eu pego pra ir pro centro, a gente tem que carimbar do lado de fora.
E, justamente nesse dia, a fiscalizacão entra. ‘Fudeu’, penso. O fiscal vem em minha direcão e eu faco uso de minha frase mais constante nessa terra : ‘in English, please’. Ele dá um sorriso exibindo os dentes tão descaradamente falsos, que chamaria menos atencão se ele assumisse a banquelice. Daí pra frente não consegui desviar os olhos nenhum segundo daquela arcada dentaria fake.
Eu fiz a cara mais inocente que eu pude, explicando que eu entrei procurando a ‘coisinha pra marcar’, mas que não tinha encontrado. Ele me informa que nos novos modelos de tram, a gente faz isso do lado de fora. ‘meu Deus, é preso com um ferrinho do lado direito’. Que a multa por tentar andar de graca é de 75 euros. ‘Será que dói ?’. Daí eu argumentei, dizendo que era nova da cidade, não sabia disso. Ele perguntou de onde eu era.
- Brasil.
- Oh, Brasil. Eu estive lá. Fui ao Rio. É um lugar maravilhoso.
- Ah, é um país cheio de dentaduras, digo, de belezas.
Então ele comeca a falar em espanhol, dizendo que consideraria voltar ao Brasil, se fosse convidado por mim. Pediu meu telefone pra que a gente pudesse marcar tomar ‘uns traquitos’. No primeiro momento eu pensei em dizer que não tinha celular, mas com minha maré de sorte, era terminando a frase e ele tocando. Preferi dizer que não sabia o número ainda (o que é verdade). Ele me deu o dele e pediu preu dar um toque. ‘Er…eu estou sem crédito’. Acabou que consegui me livrar da punicão.
- Dessa vez não tem problema, voce não vai levar multa.
- Oh, é muita dentadura de sua parte, senhor Gentileza.
Eu juro que até agora me pergunto se ele foi todo sorrisos o caminho todo ou se simplesmente não conseguia fechar a boca por conta do tamanho da protese. Chego na estacão central, ele também desce e se despede com um largo aceno de mão (gracas a Deus os holandeses não abracam, Jesus !) . ‘me ligue mesmo, hein ?’ ; ‘claro, claro, pode esperar…sentado’.
quarta-feira, 13 de junho de 2007
‘Para entender a obra de Rembrant, figura chave na pintura ocidental, , primeiro é preciso compreender a sua vida (…)’
Foi EXATAMENTE nesse tom, de quem explica a um leigo sobre arte, que minha host me deu uma aula de como passar ferro.
Admito que o ferro de passar me servia como peso de papel para as contas de luz e telefone. Mas minha host fez questão de abrir as portas do fascinante mundo desse aparelinho para mim.
Quando chegeui na cozinha, havia várias camisas penduradas nos trincos dos ármarios. Pacientemente, ela me mostrou uma a uma, falando dos tipos de tecido, de suas necessidades ( !), a funcão vital das dobras nas costas da camisa de evitar marcas de suor e da diferenca gritante entra uma camisa 100% algodão e outra com apenas 80%.
Depois das camisas, vamos para a forma da passadeira. ‘antes de tudo voce tem que entender a camisa ( ?) e só assim adapta-la de forma correta a passadeira. Ela não tem esse formato por um acaso”.
E, finalmente, o ferro de passar. ‘vc tem que distribuir o peso para que ele vá por todo ferro. Nessa parte (indo para os botões), vc usa apenas a ponta, é para isso que ele tem esse formato (ah, o bendito formato!). Não, não é assim! Lembre-se de distribuir a forca...isso !’
Eu estava ali, completamente absorta, com uma cadernetinha na mão tomando nota de cada palavra.
‘Se voce for trabalhar numa loja de roupas, voce vai ter que saber fazer isso’
‘É, vc tah certa…e vou pedir pra vc escrever uma carta de referencia pra mim’
Juro que ela fez uma cara de orgulho nessa hora !
‘your mother is going to be sooo pround of you’
Claro, o sonho de mamãe é ter uma filha passadeira "professional". Gratidão eterna de toda minha familia.
Aula da semana seguinte: como dobrar roupas. Todo o conhecimento sobre essa arte milenar vou guardar pra mim.
Outro dia, guardando a louca do jantar, o host pega todas as colheres e coloca contra a luz. Depois de um exame meticulosa, tira duas delas, com o mesmo formato das outras, mas 1,5 cm. maior (eu medi depois ).
‘Essa daqui são as colheres pra salada e tem que ficar aqui (colocando-as na mesma gaveta, mas em outra parte). Não que esse seja um problema TÃO grande, mas quebra o meu ritmo na cozinha e (…)’
No meu último dia aqui eu foi misturar toooodos os talheres olhando nos olhos dele, pego minha mala e vou embora.
Foi EXATAMENTE nesse tom, de quem explica a um leigo sobre arte, que minha host me deu uma aula de como passar ferro.
Admito que o ferro de passar me servia como peso de papel para as contas de luz e telefone. Mas minha host fez questão de abrir as portas do fascinante mundo desse aparelinho para mim.
Quando chegeui na cozinha, havia várias camisas penduradas nos trincos dos ármarios. Pacientemente, ela me mostrou uma a uma, falando dos tipos de tecido, de suas necessidades ( !), a funcão vital das dobras nas costas da camisa de evitar marcas de suor e da diferenca gritante entra uma camisa 100% algodão e outra com apenas 80%.
Depois das camisas, vamos para a forma da passadeira. ‘antes de tudo voce tem que entender a camisa ( ?) e só assim adapta-la de forma correta a passadeira. Ela não tem esse formato por um acaso”.
E, finalmente, o ferro de passar. ‘vc tem que distribuir o peso para que ele vá por todo ferro. Nessa parte (indo para os botões), vc usa apenas a ponta, é para isso que ele tem esse formato (ah, o bendito formato!). Não, não é assim! Lembre-se de distribuir a forca...isso !’
Eu estava ali, completamente absorta, com uma cadernetinha na mão tomando nota de cada palavra.
‘Se voce for trabalhar numa loja de roupas, voce vai ter que saber fazer isso’
‘É, vc tah certa…e vou pedir pra vc escrever uma carta de referencia pra mim’
Juro que ela fez uma cara de orgulho nessa hora !
‘your mother is going to be sooo pround of you’
Claro, o sonho de mamãe é ter uma filha passadeira "professional". Gratidão eterna de toda minha familia.
Aula da semana seguinte: como dobrar roupas. Todo o conhecimento sobre essa arte milenar vou guardar pra mim.
Outro dia, guardando a louca do jantar, o host pega todas as colheres e coloca contra a luz. Depois de um exame meticulosa, tira duas delas, com o mesmo formato das outras, mas 1,5 cm. maior (eu medi depois ).
‘Essa daqui são as colheres pra salada e tem que ficar aqui (colocando-as na mesma gaveta, mas em outra parte). Não que esse seja um problema TÃO grande, mas quebra o meu ritmo na cozinha e (…)’
No meu último dia aqui eu foi misturar toooodos os talheres olhando nos olhos dele, pego minha mala e vou embora.
quarta-feira, 23 de maio de 2007
“A oma vem passar o fim de semana com a gente”
Essa frase me deu um arrepio na espinha. Avós normalmente trazem uma sensacão boa, mas pensar em ficar cara a cara com a pessoa que criou minha host, acreditem, dá medo.
Na sexta, quando estava de saida, abro a porta do quarto e penso : “não é avó que veio visitar a familia, é o avo, e o avo é uma drag queen setentona”.
Infelizmente não estava com a máquina fotografica e deixei escapar o momento. Mas é só imaginar um Hobbit com o cabelo da Ana Maria Braga. Não bastasse a "forcinha" que a natureza deu, ela vem tão cheia de badulaques que parece um souvenir chinês. Não me surpreenderia se ela tiver algum botão, que ao ser apertado, começe a tocar “it is raining man” instrumental.
"A senhora é a cara de sua filha!"
"Obrigada"
"Isso não foi um elogio, minha senhora". (pensamento não expresso)
A presenca dela me deixa constrangida. No almoco ela sentou ao meu lado, e, descaradamente, me encarou o tempo todo, um olhar de crítica e análise. Além de falar mim em holandês.
No fim da tarde, quando estava no computador, ela me perguntou num inglês tão esdrúxulo, que tive que pedir pra ela repetir quatro vezes, se também fazia parte do meu trabalho ficar no computador.
Mais tarde, saí dos meus aposentos no mesmo momento que ela passava no corredor. Ela simplesmente parou e meteu a cabeca dentro do meu quarto. Assim, do nada. Assim, sem cerimônia.
No outro dia ela atrasou meu trabalho porque acordou depois das 10 da manhã e só pude ir arrumar o quarto de Céline quando ela foi pra cozinha. Meu Deus, ninguém avisou a essa mulher que avós acordam às 6 :00 da manha, fazem o café e depois vão à missa ? Ninguem avisou essa mulher que a morte é algo bem conveniente depois dos 70 ? E depois tive que arrumar a cozinha de novo, porque ela tirava e não colocava nada no lugar.
Perguntei, assim como quem não quer nada, por quanto tempo ela ia ficar. A resposta do host, num inglês resmungado que eu acho que não devia ter escutado, foi : “parece que o ano todo”.
E ela partiu, no momento que o carro saiu , todas as nuvenzinhas negras em cima da casa se dissiparam, os passarinhos voltaram a cantar e a vida voltou ao normal.
Fim.
Essa frase me deu um arrepio na espinha. Avós normalmente trazem uma sensacão boa, mas pensar em ficar cara a cara com a pessoa que criou minha host, acreditem, dá medo.
Na sexta, quando estava de saida, abro a porta do quarto e penso : “não é avó que veio visitar a familia, é o avo, e o avo é uma drag queen setentona”.
Infelizmente não estava com a máquina fotografica e deixei escapar o momento. Mas é só imaginar um Hobbit com o cabelo da Ana Maria Braga. Não bastasse a "forcinha" que a natureza deu, ela vem tão cheia de badulaques que parece um souvenir chinês. Não me surpreenderia se ela tiver algum botão, que ao ser apertado, começe a tocar “it is raining man” instrumental.
"A senhora é a cara de sua filha!"
"Obrigada"
"Isso não foi um elogio, minha senhora". (pensamento não expresso)
A presenca dela me deixa constrangida. No almoco ela sentou ao meu lado, e, descaradamente, me encarou o tempo todo, um olhar de crítica e análise. Além de falar mim em holandês.
No fim da tarde, quando estava no computador, ela me perguntou num inglês tão esdrúxulo, que tive que pedir pra ela repetir quatro vezes, se também fazia parte do meu trabalho ficar no computador.
Mais tarde, saí dos meus aposentos no mesmo momento que ela passava no corredor. Ela simplesmente parou e meteu a cabeca dentro do meu quarto. Assim, do nada. Assim, sem cerimônia.
No outro dia ela atrasou meu trabalho porque acordou depois das 10 da manhã e só pude ir arrumar o quarto de Céline quando ela foi pra cozinha. Meu Deus, ninguém avisou a essa mulher que avós acordam às 6 :00 da manha, fazem o café e depois vão à missa ? Ninguem avisou essa mulher que a morte é algo bem conveniente depois dos 70 ? E depois tive que arrumar a cozinha de novo, porque ela tirava e não colocava nada no lugar.
Perguntei, assim como quem não quer nada, por quanto tempo ela ia ficar. A resposta do host, num inglês resmungado que eu acho que não devia ter escutado, foi : “parece que o ano todo”.
E ela partiu, no momento que o carro saiu , todas as nuvenzinhas negras em cima da casa se dissiparam, os passarinhos voltaram a cantar e a vida voltou ao normal.
Fim.
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